4.25.2006

É Correntina o nome da cidade!

As mulheres têm essa mania de confissões inusitadas. Longe do cheiro de testosterona emana a necessidade de se abrir em confissões. Três mulheres, num disparate momento anterior a uma saidinha, se desatam a rememoriar momentos interessantes de amores frustrados.
Uma conta para as outras duas um momento seu de fúria e insanidade. Para falar com seu antigo namorado, após várias ligações perdidas e recusadas, a Uma se dirige, embora sem carro, ao serviço do dito cujo. Já sabendo que o mesmo não a atenderia caso interfonasse, ou acabaria inventando que não estava, a Uma se passa por uma amiga e diz à recepcionista do prédio onde trabalha o dito cujo que é de outra cidade e quer fazer uma surpresa ao amigo e deseja apenas saber se o mesmo se encontra. A recepcionista, mulher entendida nas artimanhas femininas, interfona e pergunta se o Sr. Dito Cujo está. Com a resposta afirmativa desliga com toda a discrição “artimanhense” feminina, passa a confirmação para a Uma que agradece reconhecendo a reciprocidade artimanhense, mais uma vez.
A Uma decide esperar do lado de fora do prédio, que para sua infelicidade tem várias saídas, o que poderia atrapalhar o seu ardiloso encontro com o ex. A solução é encontrar o carro do cara para vigiar sua saída com maior precisão. Após uns quarenta minutos o automóvel do cabra é localizado e começa a ser observado precisamente de um banquinho de praça próximo. Vinte minutos olhando o ambiente ao redor, mais dez dedicados ao aspecto do céu do Planalto Central, dois rápidos minutos até pegar o celular na bolsa, tirar a proteção do teclado, selecionar a função jogos e se entregar ao clássico da telefonia móvel, o jogo da cobrinha. Daí pra frente vários minutos podem ser sacrificados nessa atividade.
Graças ao Movimento Anti-Tédio do Além eis que surge Edvaldo, o taxista. O primeiro assunto da conversa, aquele quase que definitivo para sua continuidade, se referia à jogatina da garota.
- ‘Eita, mas você joga, hein!’
Nada muito continuísta, mas:
-Ahã!...
e os efeitos da primeira resposta podem ser mais quarenta minutos, no mínimo, de conversa com Edvaldo - bom de papo, o taxista. Pano pra manga suficiente para a revelação de todo o romance da Uma com o Dito Cujo do décimo andar do prédio ao lado. Tempo suficiente também para Edvaldo se identificar com o caso, já que o cara do décimo era bem mais velho que a Uma da jogatina. Deixa perfeita para Edvaldo se colocar em módulo de ataque:
- ‘Olha, se não der certo com o cara aí, eu e uns amigos estamos indo pra...
como é mesmo o nome da cidade,... Goi... - Goianésia, ... - Goiandira, (se arriscam as duas lá do início da história, se é que vocês se lembram)... ah, não importa, ele disse o nome lá da cidade...
- (cont.) e daí você podia chamar suas amigas e a gente passa o feriado lá’.
Obviamente a Uma não deu muita atenção... ‘olha, eu to falando sério é só me ligar, anota aí o número... (Caralho!) ... Fala!... 9866-4578, anotou?...
- Ahã!...
- Deixa eu ver, anotou mesmo?
- Ahã!... (Caralho)!’
A conversa fica então um tanto quanto morta por um tempo suficiente até o Dito Cujo chegar com toda a cara de espanto possível para um ex.
- O que que você ta fazendo aqui?
- Te esperando.
- A quanto tempo?
- Não interessa, a gente precisa conversar, já que você só me evita eu vim.
- Eu to com pressa, tenho que buscar os meninos.
- Ótimo, eu vou com você, eles são meus aliados.
- Não dá, tenho que passar em outro lugar.
- Onde?
- Tenho que buscar alguém.
- Você tá com outra?
- Não vou mentir.
- (Caralho!) Pelo menos me deixa na rodoviária.
- Não dá, tô com pressa.
- Desgraçado! Como você pode.
- Não, espera.
- Me solta!
- Eu te deixo na rodoviária.
- Não quero mais!
- Depois a gente conversa, eu tô mesmo com muita pressa.
Uma qualquer andando pela rua, vira a esquina quando um carro para ao seu lado:
- Entra aí!.
- Edvaldo!
- Eu falei que esse negócio de homem mais velho não dá certo.
Risos em disparate das três do início da história e só então a saidinha acontece, dia comum, noite comum de três mulheres. No dia seguinte uma das duas que escutavam a história recebe uma mensagem da Uma: É Correntina o nome da cidade!
Xuru, essa é pra você... não precisa dizer mais nada, né!

4.24.2006

Três

Três é um número perfeito
Trilogia de cinema
Santíssima Trindade
Eu devia ser três
Uma família, outra amigos e outra amores
Idéias, devaneios e ignorância
Administrar melhor amor, ódio e indiferença
e poder curtir Lobão, Carlos Malta / Pife Muderno e a Criolina do Calaf ao mesmo tempo!

Vou tirar no palitinho para ver quem serei neste feriado!

4.19.2006

A imprensa enoja!

Essa é em homenagem à aventura metal da minha amiga Ana Cláudia
em algum dia de fevereiro.

Restaurante Letoile D’Argent – coletiva de imprensa. Uma Brasilidade incrível, a começar pelo nome do restaurante, bastante brasileiro. O ambiente era também de muito brasilismo: é chegar e pedir um aperitivo, uma branquinha pra abrir o apetite. Imagine só, a etiqueta morreria! Mesa posta para o prato de entrada, pratin pequenin, duas facas, dois garfos, modos, modos e modos, inatingível etiqueta. Certamente não pudemos cumpri-la, mas é certo que ao menos tentaríamos. Até então a música ambiente segurava o clima e nosso bate-papo nos abstinha daquele cenário. Eis que chega a nata, os empresários,e automaticamente os rélis urubus se atiçam, acham o máximo brincar de jornalista. Sempre um quer dar uma de bonzão, de diferente, de inusitado. Tão previsível! Tudo bem, facilmente ignorável. Obviamente a essa hora os estômagos já esperavam enlouquecidos por um digno almoço, afinal de contas, num restaurante com um nome desses... O espaço tá aberto para as perguntas dos jornalistas, e é claro que ninguém quer falar, todo mundo tá lá só pra comer. A gente se esforça e ainda sai alguma coisa, mas o tempo tá correndo, e a gente trabalha, ao contrário da mamata de muitos da família urubuana. Engolindo literalmente a comida, um enorme pedaço daquele bifão que compunha o nosso diversificado PF de bife e macarrão tomou o caminho errado e por lá ficou. O jeito foi ir embora com o bife no meio da garganta, ou onde quer que ele estivesse. O conjunto restaurante francês, evento brasilidade, jornalistas urubus, modos de etiqueta e PF pobre de nome chique obviamente não deu certo. O resultado foram três belas jorradas de vômito pelas ruas da cidade. Devia ter pedido a pinga!

4.18.2006

Medo de estragar a lembrança

Voltar a planos céticos, que vêem a tona numa possível realidade minha, só.

Deixar na lembrança a negação da amizade, jamais iniciar a conversa, apenas história de amor.

Desculpa de cego, querendo ser mudo, para não falar do que finge não ver. Estranheza.

Por trás da câmera fotográfica o olhar nunca é ingênuo. Revelada, a beleza de se sentir visto. E fica por isso mesmo, e mesmo assim não sai da cabeça.

Esqueço porém, do lado oculto do abraço, de qualquer outro lado. Fecha-se o ciclo, continua a insistência de não ser enterrado.

Olhos ardidos de dor, raiva.

Pensamentos soltos. Descontinuados, oscilantes, incertos, incompatíveis e indiscutíveis.

Querência de palavras, escritas, faladas.

Essência de tédio, desejo de vazio ainda maior.

Distância permitida e suplicada pela incerteza de sentidos.

Desespero para voltar para ainda mais longe, onde a memória não alcança e o olhar nunca vai.

Fé em Deus e Pé na Tábua

Há muito que a fé parecia perdida. Acho que tinha uns treze anos quando senti que o mistério era muito maior, que tudo faria sentido, mas em um reino de outro mundo. Me acomodei na ignorância. Depois disso foram poucas as vezes em que senti um pouco daquele elo de fé. Esse ano, talvez pela primeira vez, a semana santa cumpriu o seu papel. Uma renovação de sentidos. A começar pelo olhar. Um olhar febril por trás da máscara de um farricoco. A cidade pegava fogo quando olhada por cima e em meio ao fogo um sopro fresco na alma. Goiás Velho exala uma energia diferente, como se nenhum outro lugar no mundo existisse e o tempo parasse naquele caminhar acelerado da multidão. A audição se aguçava, tanto com o rufar dos tambores, quanto com a conversa mansa de Dona Terezinha, o exemplo de senhora que ainda vou ser, tanta euforia, tanta vida, uma vida especialmente simples para quem sabe viver.
O gosto da manhã renovada era o gosto da estrada. Manhã leve, solzinho quente na medida certa para ativar um longo dia. Viajar causa tantas sensações, nos permite, mais: um olho na estrada, outro no som e outro no pensamento. Voltar para a casa então, torna a viagem ainda mais especial. Principalmente quando a casa está cheia, novas sensações de retorno e resgate da família.
E a lua, enorme, fasceira e malandra, fazendo fricote se escondendo entre as nuvens. Já era um outro dia, que na verdade se emendou com todos os outros e tornou-se um tempo só. Tempo antigo. 2006 anos atrás e um clima de interior, provinciano, acalentado pelo cheiro de pipoca de carrinho. Encenação e procissão de rua: a Paixão de Cristo. Dava quase para tatear as lágrimas de Nossa Senhora, o olhar distante de Jesus e a voz firme de Pilatos. O andar cada vez mais pesado se aliviava a cada olhadela para a lua. E sempre mais alívio para a alma. E 2006 anos se passaram e é chegado o fim, a hora da despedida. A vez da família preencher o coração. Depois da morte, a ressurreição acontece de outro jeito. Trocamos Deus por Deus. A risada gostosa, lágrimas ternas e um calor de amor tão grande que a solução foi cair na água de roupa e tudo, fazendo mais uma vez o tempo parar. O canto de despedida se prolonga e os abraços fazem até o coraçãozinho mais infantil chorar. A estrada agora acomoda a família que volta para a casa, e eu fico, plena de fé, como se nunca tivesese deixado os treze anos.

4.11.2006

Doce Private

Fragmentos de Poesia

O céu é o teto riscado
Relevo de onda
Próximo, quase de se tocar

Sonhos filtrados
Linhas tortas
Que se movimentam em nossas íris

Um canto conhecido
Num olhar perdido
Memórias de momentos inexistentes
Ou imaginários
Entrelaçados em nossos abraços